24/03/2012

monocromático



Andam as esquinas e param os trens. Tudo monocromático, eu me pergunto para onde é que foi toda a cor furtiva que mantive no bolso da jaqueta agora jogada sobre o sofá. Estão tentando me acordar, mas eu não quero ficar aqui sem ser de olhos fechados. Não dá para caminhar me apoiando, as esquinas estão se movendo. Também não dá para ir ao cinema, os trens pararam. Que diferença faria abrir os olhos se tudo continuaria meio turvo e acrómico? Permaneço na escuridão calorosa dos meus olhos febris. A cada dia torno-me mais efêmero. Eu e as coisas que toco. Bastou pousar minha cabeça no ombro dela para que se voltasse contra mim num ato pensado. Que bom que alguém ainda pensa por aqui. Estou com preguiça de formular as metáforas que outrora me garantiram a hibridez de ideias. Mando os insistentes de “paz interna” – terapeutas, inúmeros – para a dama que os pariu. Convenço-me a cada tragada que pertenço mesmo a esta balbúrdia. Não adianta sequer caminhar sob o meio fio a fim de provar que, lá no fundo, existe uma fagulha de equilíbrio. Ou fugir para o cinema tentando tomar emprestada a felicidade dos que sorriem ao longe. Permaneço convicto de minha cegueira, de minha paralisia, mas vivo. 

Bruna Cassiano
Postado por Fernanda Souza às 21:26

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