25/03/2012

Ilegível



A língua que falo, com certeza, não é dessa raça. Quando falo me olham espantados; alguns com curiosidade nos olhos, querem entender o que esse estranho fala a elas; outros com uma cara feia, como se estivesse xingando-os. Poucos saem refletindo, procurando entre seus idiomas aprendidos um significado plausível; já a maioria só vira de frente e continua a andar, volta a pedir sua esmola no sinal ou nas linhas de montagem.
          Escrevendo nessas linhas tortas do meu caderno, nem o papel me entendia. Ele dobrava, amassava, esticava, virava.. tentava de todo jeito interpretar os símbolos ali desenhados. Minhas poesias voam da minha boca, mas ao bater nos ouvidos alheios parecem somente ruídos. Minhas canções eu sussurro de lado ao teu rosto, mas em ti elas não penetram, não tem força, nem sentido. Já tentei rezar, mas os anjos ergueram as sobrancelhas em dúvida se gemia ou pedia. Já tentei me tratar, mas devolveram meu formularam do psicanalista, escreveram bem grande em vermelho: Ilegível.
          Onde eu nasci afinal? Será que ela me pariu nesse fim de mundo mesmo? Ou será que vim de outro canto, fiz algo bem ruim, e me trouxeram pra cá como castigo? Se for isso mesmo, queridos, eu me arrependi já, mesmo sem saber o que fiz.. só me levem de volta, que isso aqui não é pena justa pra nada, é sentença desumana.

Bruno Simão

Postado por Fernanda Souza às 18:32

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